O nevoeiro
retira gradualmente as mãos do pensamento.
Os gestos ficam desorganizados, até suicidas,
à espera que as curvas sinuosas das andorinhas
indiquem o caminho sem destino conhecido.
A espada invisível quase toca no pescoço
e a fala encurta o acento
numa insciência tónica gradativa.
Os desconjuntos das palavras não rimam
e andarilham em ziguezagues hilariantes
por atalhos aleatórios incitados pelo vento.
Cada miscelânea da memória
plasmada pelos sonhos na realidade
circula em contramão
e Deus e o Diabo
estão cada vez mais enovelados.
Ainda que chovam ajudas
a mirração do propósito acaba num rio sem
caudal.
A demência abre a porta e alimenta-se da
memória
até que fica dona das palavras e dos gestos
até ao fim, afortunadamente ignorado.
© Jaime Portela, Setembro de 2025
A Doença de
Alzheimer é uma doença neuro degenerativa crónica e a forma
mais comum de demência. Manifesta-se lentamente e vai-se agravando ao
longo do tempo. O sintoma inicial mais comum é a perda de memória a curto
prazo, com dificuldades em recordar eventos recentes. Os primeiros
sintomas são geralmente confundidos com o processo normal
de envelhecimento. À medida que a doença evolui, o quadro de sintomas
inclui dificuldades na linguagem, desorientação, perder-se com facilidade,
alterações de humor, perda de motivação, desinteresse por cuidar de si próprio,
desinteresse por tarefas quotidianas e comportamento agressivo. Em grande
parte dos casos, a pessoa com Alzheimer afasta-se progressivamente da família e
da sociedade. Gradualmente, o corpo vai perdendo o controlo das funções
corporais, o que acaba por levar à morte. Embora a velocidade de
progressão possa variar, geralmente a esperança de vida após o
diagnóstico é de três a nove anos. (in Wikipedia).
Este poema foi escrito com
base na observação desta doença em 3 pessoas da família.